terça-feira, 25 de março de 2014

De sabores e pessoas inesquesíveis

Autora: Conceição Gomes

Primeiro Tia Mariínha... Era baixinha, magra. Usava na cabeça algo parecido com um turbante. Era mãe da minha mãe de leite. Mãe de leite era uma amiga que alimentava uma criança recém nascida, quando a mãe  natural não tinha leite suficiente.A minha chama-se Gaída.Mas voltemos à tia  Mariínha. De vez em quando ela aparecia na Vila de Irituia, onde meus pais tinham uma casa. Era uma festa para a criançada...Ela fazia  mingaus deliciosos, de milho branco, de arroz e de farinha de tapioca, tudo com  muito leite de coco  e castanha do Pará. Armava sua mesinha num cantinho da “praça”, um fogareiro á carvão, cuias de vários tamanhos e vendia suas delicias. Não havia quem não fosse tomar os mingaus de Tia Mariínha.
Outros personagens  adorados pela criançada eram Seu Chico Cocada  e Seu Chico Broeiro. As cocadas de Seu Chico eram divinamente saborosas. Até hoje não lembro de ter comido outra igual.As broas de polvilho com erva doce do Seu Chico Broeiro  eram  um maná dos deuses. Tanto um como outro saiam para vender as guloseimas no final da tarde. Por diversas vezes tentei fazer cocadas, mas nunca tive talento para as artes culinárias. Meu mingau de arroz este sim, é uma delicia.  Leva leite de coco, creme de leite e leite condensado mas como é super  calórico, só muito, mas muito de vez em quando...
Da comadre  Lina lembro da carne de porco preparada na panela de barro e no fogão á lenha. Com arroz  e farofa de toucinho frito, era por demais da conta de gostoso. E o mingau de farinha dágua  e leite de cabra com ovos quebrados dentro e levemente cozidos? Muitas vezes era o nosso  café  da manhã  feito carinhosamente pelo nosso pai.Era substancioso...
Da minha sogra lembro do saboroso bife que ela fazia. Por mais que eu tente, não consigo fazer igual. A sopa de siri, então, era deliciosa. Da minha irmã Anabela, já falecida,  a salada de berinjela.
Interessante como esses sabores ficam gravados na nossa memória gustativa. Tanto tempo é  passado  mas ainda vem na saudade, aquelas tardes em que nos deliciávamos com   saudáveis guloseimas caseiras  dos Chicos. Outros sabores ficaram gravados e de vez em quando eles vem á tona para lembrar das pessoas que nos  proporcionaram momentos  de gostosura alimentícia.


Autora: Conceição Gomes - Curitiba/PR

Página da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=54344

2 comentários:

Ana Bailune disse...

Literalmente, uma crônica deliciosa de Conceição Gomes.
Boa noite, Carlos, e que bom ver você de volta.

Carlos A. Lopes disse...

Também gostei muito do texto de Conceição Gomes.
Aos poucos vou voltando. Peço desculpas a todos pelo abandono do blog nos últimos meses. Além de toda batalha para salvar o meu pai temos agora que cuidar da nossa mãe. Além do conforto espiritual temos cuidado da sua saúde com exames, etc, etc. Enfim, esse processo de perda de um pai envolve muitos cuidados, sobretudo quando a família é pequena.