sábado, 26 de setembro de 2015

Você já viajou de avião?

Autora:Ana Bailune


Minha primeira viagem aérea foi bem tardia: eu já tinha vinte e nove anos, e foi um voo para Salvador, Bahia. Meus sonhos, naquela época,  eram conhecer Salvador e viajar de avião, e acabei realizando os dois ao mesmo tempo.

Já tinha ouvido falar em turbulência, mas como nunca tinha enfrentado uma, não fiquei assustada quando, a certa altura (literalmente), o avião começou a chacoalhar mais do que os ônibus da Viação Esperança aqui de Petrópolis. Eu estava lendo, e lendo eu continuei. Até que levantei os olhos, após ouvir a advertência do piloto para que continuássemos em nossos lugares, e vi que o cara da poltrona à direita da minha estava suando frio, e de olhos fechados. Uma mulher idosa dedilhava um terço. Pensei: 'Será que é para eu me preocupar?"

Perguntei ao meu marido, que já era veterano em viagens aéreas, o que estava acontecendo, e ele me falou que estávamos passando por uma turbulência daquelas! Daí, eu pensei: "Se o avião cair, nem dará tempo de dizer: 'Ih! Morri!' E se ele não cair, de nada adiantará pagar o maior mico." Assim, voltei à minha leitura.

Meu marido, nervoso, perguntou-me: "Isso é hora de ler? Afinal, que livro é esse?" E eu: "É um livro sobre reencarnação."

Nem preciso dizer que ele quase comeu meu fígado...

A segunda situação periclitante dentro de um avião, foi quando chegávamos ao Rio, vindo de Natal, e ao invés de pousar logo, o avião ficou sobrevoando o aeroporto por mais de uma hora em uma tempestade, à noite, antes de receber autorização para pousar. A toda hora  ouvíamos o trem de pouso sendo baixado e sendo novamente erguido.

Os passageiros começaram a conversar entre si, perguntando o que poderia estar acontecendo. As comissárias apenas pediam que permanecêssemos calmos em nossos assentos. Lá fora, víamos os clarões dos relâmpagos, e a chuva escorrendo no vidro.

Finalmente, pousamos sem nenhum problema.

Eu descobri que não tenho tanto medo da morte quanto eu pensava que teria. Além disso, morrer de acidente de avião é bem mais chique do que numa batida de um Fusca contra uma árvore ou poste. Mas se um dia eu for morrer durante um voo, espero que esteja voltando de Paris. Já pensou, que legal, meu nome sendo lido no Jornal Nacional, em horário nobre? E voltando de Paris?!



Autora: Anabailune - Petrópolis/RJ

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domingo, 13 de setembro de 2015

A Quinzena do Autor: Alice Gomes

Alice Gomes

Sou quase uma de muitas.
De todas me falta um pedaço.
Um não-sei-quê, que ainda busco.


Por que escrevo?
Porque Uma e Outra me habitam.
Uma que está para o mundo e Outra que só está.
Uma respira o pó da terra, Outra o pó das estrelas.
Uma sofre quando pensa, Outra canta quando sofre.
Uma tem poderes de fazer calar, quase sempre.
Outra só tem o poder de sufocar, às vezes.
É Uma que escreve quando Outra quer falar.


ALMAS   (HÁ UMAS)

Há uma parte de mim que agradece à que desarruma
(uma parte de mim que obedece ) à que se acostuma
a uma parte de mim.

Há uma em mim que se acomoda, se empanturra,
se acautela, se engordura.
Há uma em mim que se sujeita.

Há uma em mim que se enoja, se esmurra,
se rebela, se procura.
Há uma em mim que se respeita.

Há uma parte de mim que se habitua à que adormece
(uma parte de mim que tumultua )  a que enlouquece
uma parte de mim.

Há uma em mim que boceja, atrofia,
desconversa, renuncia.
Há uma em mim que não rejeita.

Há uma em mim que lateja, repudia,
desgoverna, desafia.
Há uma em mim que não aceita.

Há uma parte de mim que não se importa,
uma parte de mim que grita e morde,
uma parte de mim que não suporta
uma parte de mim que vira e dorme.


AMOR TEMPORÃO    (letra de música)         


Já andei por caminhos, já pisei em espinhos,
que você, sendo tão jovem, sei que não pode entender.
Tenho tantas cicatrizes, de lembranças infelizes,
dessas que tanto remoem, de antes mesmo de você nascer.

E você chegou, quase menina, e me amou, inocente
num momento em que eu estava carente
sedento de vida, água fresca bebi
Me trouxe a fartura tardia das frutas sadias
e eu não resisti.

E eu te amei como um doido varrido
um louco perdido no meio de tanto frescor
Te sufoquei com meus beijos famintos
eu fui só instinto, não vi que matava um amor

Com a mesma leveza que veio
sem nenhum rodeio você me deixou
Eu vi que a loucura tem preço
sozinho envelheço: - a fonte secou.

E eu  gritei como um louco varrido
um louco perdido no meio da minha aflição
E sufoquei meu ciúme doentio
e agora o vazio, sofrendo com a solidão

Eu vi que a loucura tem preço
sozinho envelheço: - a fonte secou.
Com a mesma leveza que veio
sem nenhum rodeio, você me deixou.


ANGÚSTIA

a febre do estrepe
o eco do berro
o prego, o flagelo
o secreto inferno
o inverso.

a seca da pena
a arena, a algema
a rede, a sede
a parede

o beco, o fecho
o medo do erro
o peso do gesso
o azedo do apego
o avesso.

o desassossego.


NA RUA QUE VOCÊ MORA

Na rua que você mora
tem umas flores bem branquinhas
de uma árvore pequenina
que tanta inveja me dá
de todo dia vê-la passar
sem jamais ter de ir embora.

Ai! Quem dera também minha
fosse a rua que você mora!


HOJE NÃO

Juro por Deus que eu te queria
Fazer um poema de amor
Mas, à minha revelia,
O coração, miúdo e mudo,
Decidiu que hoje não...

Amanheceu carrancudo
Não quer riso, não quer sonho,
Não quer volta nem milagre
Só quer saudade sofrida
Do que foi realidade.

Perda por demais doída
Faz dessas coisas com a gente
Põe medo, tira a esperança
Tranca portas, pede um tempo
Vela em silêncio o fim de “um dia”

Juro por Deus que eu te queria
Aqui comigo pra sempre
Dizer o que nunca te disse
(E hoje até que eu diria)
Mas meu coração, de repente,
Resolveu que hoje não.


INDIFERENÇA       (letra)

As pintas todas das tuas costas já conheço bem
pois nas respostas nem te viras para ver-me
e ao fazê-lo , é com um desdém
que não se tem nem com um amigo
Eu tenho tanto a dizer-te e já não digo.

“Olha pra trás, olha pra trás” nas despedidas,
Já tentei isso com o olhar fixo em tua nuca
Eu sei, são coisas de maluco,
e estou maluco, sem cautela,
mas só eu sei da minha vida e o que fiz dela.

Falo bobagem, faço gesto, invento assunto,
Só pra saber se ainda resta alguma gota
mas há um fosso que é tão largo, é tão fundo
e fica sempre um gosto amargo na minha boca.

O nosso fim já está aí fora, bate à porta,
que ele entre, não importa, já passou da hora
Eu te devolvo a liberdade, sem nenhum pedido.
Eu vou sentir muita saudade, mas sobrevivo.


O CHÃO

Ah! Tão pé no chão!
Tão pé no chão que o peso do chão
me sobra à cabeça.
Me cobra a represa do voo travado.
Me pune o pecado da lida rasteira.

Da beira, da beira, da eterna beira,
de quem só entende de chão.

Da asneira de lição aprendida dos precipícios alheios.
Tanto receio, tanta xepa de vida!
Tanta regra seguida, a nem um metro do chão!

Quanto chão! Quanto chão!
Quanta vã guarida de chão!
Tanta pedra, tanto tropeço e o chão,
sempre o chão,
a me poupar da queda.

Quanta náusea de altura da superfície do chão!


O MEIO DO MEDO. O MEDO DO MEIO

Ando meio com medo da vida, mais que da morte.
Ando meio sem sorte, sei lá. Meio sem prumo.
Meio desacreditado até do que posso. Meio velho por dentro.

Ando meio cru, mal passado, vendo a vida passar, embrulhada
Em papel de embrulho de pão bolorento.

- Com tantos eus que podia ter sido e não me permiti um só! –

Ando meio só de mim, pra falar a verdade.
Ando não me querendo ultimamente.
- Nem a mim, ai de mim! –

Ando pelo meio do caminho, até da calçada.
Ando meio sem nada de bom pra fazer.
Ando é querendo ver logo o fim disso tudo.
Saber se o oco tem meio.

Ando com medo do meio um dia ser inteiro
E acabar pelo meio o tinteiro de cor desbotada
Que ressecou, por desuso, num canto da mesa.

- Ah! Pro meio do inferno toda essa tristeza! –

Bendita a ira que me liberta!


O RIO DETRÁS DA CURVA


Atrás daquela curva há um rio
Sei-o, porque o vi.

Há rios que ficam na retina,
para o lado de dentro.

Eternos, a quem os conhecem
invisíveis, a quem nunca os viram.

Amores, na vida, há alguns
que a curva do tempo não mostra.

Eternos, na memória do avesso
dos que os sabem, porque os viveram.

RELÍQUIA


Trago dentro do meu peito
um amor já amarrotado
tantas vezes desdobrado
na intenção de ser feliz.

É que o destino não quis
que este amor tivesse jeito.


Então, até por respeito,
Por medo que se destrua
e nem mais isso eu possua,
hoje o conservo guardado.

Melhor mantê-lo intocado
A arriscar vê-lo desfeito.


O traduzir-se

Com que cores pintar essa tela, se há nela todas as cores e, todas elas, intensas e sobrepostas? Que borrão é este, que encobre paisagens e cubos, e esferas?
Como traduzir este ser que há e que nem a mim se revela?
Sem antenas, setas, trilhos, retas. E nada se completa.

Tudo, de início em início, se entrelaça a outros inícios de coisa alguma.

E tudo esfalfa, tudo sangra, tudo arde.
 E tudo foge, tudo escapa, para de novo um novo ser se pintar.
Este ser de movediças areias, de patagônicas geleiras a se derreter.
Com que cores pintar instantes? Qual a cor da vertigem?

Que ser é este, múltiplo, ávido, desgovernado? Que olha por meus olhos e não me lega lembrança sólida de sequência nenhuma?
Este ser que não me ensina a diferença entre estar feliz ou infeliz, que não me dá tempo de sentir nada por inteiro. Que tudo já foi e não vi. E nada me deixa.

Que ser é este que em mim rodopia, e se contorce em misteriosas danças? E vai ao alto e despenca voos alucinados. E sorri, nem sei de quê, e se inebria. E fecha minhas pálpebras e aspira partículas inspiradas de sons dispersos no ar que é só dele. Que vivencia serenidades e no instante seguinte me encharca de angústia.

Que ser é este que em mim habita, mas não me pertence?
Com que cores pintar essa tela, se há nela todas as cores, e nenhuma permanece mais que um segundo?


O cavalo das almas  - I

Licinha ajudava como podia. Subia no telhado e, com vara, várias vezes mais longa que suas finas perninhas, socava, socava com força, pra dentro da chaminé.
A mãe talvez nem soubesse, (não, não sabia), o perigo que a filha corria. Em pé, sem apoio, girava no ar os braços, brincando de equilibrista. E ria.
Depois não descia, era por lá que ficava, no seu mundo de silêncio e telhas, e os livros que lia.
Às vezes ouvia o canto feliz da mãe, que cozia. Esquecida das pragas que há pouco rogava:
- Cavalo das almas!
Toda a pobreza, cansaço e fumaça, o fogão resumia.
Velho vermelho fogão, de cimento e lenha, e fogo, e choro. Nuns dias picumã, noutros iguarias. Nunca soube Licinha de onde vinha o nome e o porquê, achava que se tratava de tudo aquilo que entupia.
- Cavalo das almas!
E a vida seguia, como tinha de ser.

Numa noite, talvez véspera de Natal, findo um desses dias de pragas rogadas, ouviu Licinha a mãe que chorava, coberta de raiva, pobreza, cansaço e fumaça, e o pai que dizia: - Calma, velha! Não era pra eu lhe dizer (então, porque é que dizia?) mas amanhã ganharás um novinho, à gás!

Dos dias seguintes não se lembra, mas ainda em si e em meia dúzia de seres, mesmo que a ninguém mais faça sentido, haverá para sempre o amado inimigo:
- Cavalo das almas!
E a vida seguiu, como tinha de ser.


Antigamente...

Antigamente, quando eu era jovem, achava que podia comer a vida,
 feito sobremesa.
Que ela estaria sobre a mesa, esperando para após o jantar.
Não importava comer o nada, ela estava lá, para dali a pouco.

Quando finalmente cansei de inapetências quis o doce.
E ele era de fruta estragada.

Antigamente, quando eu era jovem, sonhava que o tempo não existia.
Que era brincadeira de mau gosto das velhas bruxas.
Desdenhava das máscaras enrugadas, mostrando-lhes minha força.
 Sem medo do escuro do meu quarto.

Quando finalmente, acesa a luz, porque se fez noite lá fora,
 o escuro veio para dentro.

Antigamente, quando eu era jovem, abdicava dos grandes prazeres,
na espera fantasiosa dos pequenos milagres.
Doava amores e humores a quem comigo dançasse
a dança dos desatentos.

Quando finalmente, pés cansados, ouviu-se a música,
zumbiu no ouvido o som do tempo. Desafinado.


Poesia para uma pedra


Sei que não falas a minha língua e nem eu entendo em qual idioma me desprezas.
Mas, quem dera, ouvisses-me, compreendendo-me!
Quem dera, que mesmo calados, entendesses que tenho eu muito mais a dar-te que tu a mim!
Quem dera o nefasto de teus longos braços, que hoje me alcançam e me destroçam, sucumbisse, à luz do entendimento!
Sei que a vida é perda, o tempo todo. Aprendi isto contigo e aprendi cedo, mas quem dera, o olhar que me negas ao menos te visse a ti, por dentro, e te cegasse das tuas monstruosidades!
 Sei que me poupaste ao acaso, e só ao acaso devo o que me resta de vida inocente, mas quem dera fosse a minha vida salvar-te da tua!
Quem dera descesses à minha trincheira, que hoje me obrigas a cavar com as minhas próprias mãos rubras de sangue, e visses, daqui de baixo, o mesmo céu azul que eu via, antes do teu sobrevoo!
Quem sabe aprenderias a minha língua e eu a tua, e aprendendo-a, te ensinaria que existem outras coisas a se fazer no mundo além de fechar caminhos.
Quem sabe me ensinarias a tecnologia com que fabricas as tuas bombas e eu, aprendendo-a, transformaria em saudáveis as tuas veias podres, e te daria século e meio de novas possibilidades.
Quem sabe converteríamos juntos a pedra que és, em água límpida, e irrigaríamos outros áridos solos. Quem sabe daríamos boas sementes.
Quem sabe houvesse tempo de não permitir-me crescer assim, tão parecida contigo.

(dedicado aos soldados que despejam bombas nas cabeças de crianças)


A borboleta

As lindas asas azuis de corpo cansado,
Finalmente na parede quieta e branca.
Ah! Descanso! Oh! Cansaço!

Grande aventura foi o voar! Sim, grande aventura!

O que fazia mesmo enquanto voava? Não se lembra.
Ah! Descanso do voar! Oh! Cansaço do voar!

A amiga cigarra, a cantar, cantar:
- Despuès de um año bajo la tierra!
Morreu a amiga de tanto cantar.

Ah! Se pudesse, outra vez, lagarta!
Comer, comer! Brincar de comer.
Há quanto tempo não come...
Deslizar por entre as folhas e depois comê-las.
E deslizar, e comer, e deslizar, e comer.
Armazenar, armazenar.

Grande aventura foi o voar! Sim, grande aventura!

O que fazia mesmo enquanto comia? Não se lembra
Ah! Descanso do comer! Oh! Cansaço do comer!

A amiga cigarra no chão. As formigas a comê-la.
Comer! Comer!
Armazenar. Armazenar.

Ah! Se pudesse, outra vez, casulo!
Silêncio, silêncio. Dormir em silêncio.
Dormir em si mesma, sobre si mesma, dentro de si.
Há quanto tempo não dorme...
E dormir, e comer-se, e dormir, e comer-se.
Poupar-se. Poupar-se.

Grande aventura foi o voar! Sim, grande aventura!

O que fazia mesmo enquanto dormia? Não se lembra
Ah! Descanso do dormir! Oh! Cansaço do dormir!

A amiga cigarra, que já é formiga...
Fragmentos de cantos comidos.
E tudo é transmutar.
Ah! Se pudesse, outra vez, o voo!
O gozo consciente do voar!
Sem fome, sono, chão, amiga, destino.
Sem visões de formigas de asas azuis.
Nunca mais o encolher-se
Nunca mais o desdobrar-se

Grande aventura foi o voar! Sim, grande aventura!

O que fazia mesmo enquanto tentava? Não se lembra.
Ah! Descanso do tentar! Oh! Cansaço do tentar!


sábado, 12 de setembro de 2015

Dores, amores e uma canção

Alice Gomes

Seria uma bela canção como qualquer outra bela canção, não fossem as marcas profundas deixadas, em três fases distintas, na minha vida. E uma canção, quando se torna a trilha sonora de uma vida, nunca mais dela se esquece.
“O teu olhar caiu no meu, a tua boca na minha se perdeu; foi tudo lindo, foi tão lindo, foi...”
Maio de 1995. A noite em que dormi na sua casa, hóspede da família, foi decisiva para unir duas pontas de uma história feita de ilusões. Uns dez anos que não a via. Tornara-se uma linda mulher, quem diria, aquela pirralhinha dentuça de cabelos despenteados! Que idade mesmo? Uns treze ou quatorze, nem me lembro...
Casa pequena, foi-me oferecido o seu quarto para o pernoite, ela no sofá. Ficaria eu no sofá, sem problema, porém, diante da insistência da mãe e dela própria, resignei-me a dormir num quarto de paredes cor-de-rosa, ursinhos e penduricalhos que desciam do teto até quase ao meu nariz.
— Está tudo de acordo? Precisa de alguma coisa? Olha, aqui na parte de cima  do guarda-roupa tem o edredom, caso esfrie. O banheiro fica ali no corredor, segunda porta, mas você ainda se lembra, não? O interruptor ao lado direito, quase atrás da tv. – De um só fôlego, naquele tom polido e ansioso das camareiras de hotel em  final de expediente.
— Está tudo bem, não se preocupe e obrigado por tudo. – Respondi, também rapidamente, incomodado pela presença daquela quase estranha e linda mulher. Eu precisava estar só para me reencontrar. Tantos anos passados desde que eu saíra daquela cidade e da vida daquelas pessoas e agora ali, meio sem jeito. A família toda, muito minha amiga, que me ajudara a suportar alguns dos piores anos de um casamento infeliz.  Muitas e muitas vezes eu vim àquela casa unicamente para conversar amenidades, jogar dominó ou cartas com eles. Seus dois irmãos, ela e eu formávamos as duas duplas, e passávamos horas a rir e a brincar inocentemente, sempre ao som de canções da época ou até mais antigas, das quais ela gostava, para minha surpresa, pois eram do meu tempo e não do seu.
— Você ainda tem aqueles discos que ouvíamos quando eu vinha aqui? – escapou-me a pergunta que transformaria a minha vida.
— Sim, tenho todos ainda guardados. Estão aí numa caixa, embaixo da cama. Quer que eu ligue o toca-discos pra você? – indagou, aproximando-se.
Por um momento pensei em dizer não, mas, não sei se pela demora na resposta ou pela urgência do reencontro com o meu único pedaço de passado feliz e nisso a música talvez ajudasse, quando dei por mim já um som baixo e melodioso invadia o ambiente. E já eu, sentado na cabeceira da cama e ela, na outra extremidade e, entre nós, diversos discos espalhados. – Olha este! Lembra daquele dia, assim, assim...? – Sim, me lembro. E esta música? Lembra daquela vez em que... E, aos poucos, aqueles dez anos em que estivemos distantes desapareceram e me senti transportado novamente para o seio daquela família tão querida, que tão bem me acolhia sempre que eu precisava.
Num determinado momento, (sim, determinado, porque me parece, hoje, determinado pelo Destino), as palavras da canção: “ o teu olhar caiu no meu...” aniquilaram de vez as minhas forças. Debrucei a cabeça sobre o colchão, com uma vontade imensa de atravessá-lo, e ao centro da Terra, e ir sumir lá pelo outro lado do mundo. Sumir com todas as lembranças dos meus longínquos vinte anos na década de setenta, quando a ouvira pela primeira vez e a sussurrara nos ouvidos da primeira namorada, que viria a se tornar esposa.  Lembranças de todas as dores do mundo, que foram minhas, pela escolha errada da mulher errada na época errada. E sumir comigo próprio, que não soubera me salvar a tempo de não fazer sofrer a mim, à minha companheira e aos meus filhos, testemunhas e vítimas de um casamento angustiosamente frustrado. Sumir até mesmo com a lembrança recente da razão pela qual eu viera parar naquela casa, pernoitar para seguir adiante, numa viagem que me fizesse esquecer o doloroso fim de uma união de tantos anos.
Foi nessas e por essas circunstâncias que o toque suave dos seus dedos nos meus cabelos arrepiaram-me até à alma. Levantei a cabeça, olhos fixos e depois fechados... “E foi tão lindo, foi, e eu nem me lembro do que veio depois”... Amanhecemos num abraço contorcido de cama de solteiro num quarto de paredes cor-de-rosa, ursos e discos pelo chão e penduricalhos a fazer cócegas no nariz. O sol, batendo no rosto, a me lembrar que era preciso urgentemente desarrumar o lençol do sofá e torcer para que o sono da mãe tivesse sido pesado. Não o foi. Ela já nos esperava com o café pronto e sorriso nos lábios. Vim a saber por ela, com o olhar assertivo e encabulado da filha, que aquele momento teria que ser vivido um dia, pois que senão, a filha não desengasgaria aquela paixão-espinho-de-peixe que lhe atravessava a garganta. Vim a saber detalhes dos quais eu nem sequer supunha daquele amor platônico pré-adolescente, enquanto eu a considerava uma pirralha boa parceira de baralho. Da vigilância permanente da mãe e irmãos para que ela não se excedesse e eu não desconfiasse, pois sabiam eles, mais velhos, de todos os meus problemas reais da época e que eu certamente me afastaria, caso soubesse que uma garotinha estaria interessada em mim, tão mais velho que ela e casado. Mal casado, sabíamos todos, mas responsável o suficiente para não tirar proveito de sua inocência.
O mundo é feito de ilusões e eu tive as minhas, por duas vezes. Na primeira, quando eu, jovem, me perdi de amores por uma mulher e com ela constituí família e envelheci mais que devia. Na segunda, eu, meia-idade, cabelos indecisos entre preto e cinza, me perdi de amores por uma jovem que me convencera de que eu era um semi-deus. E “eu me senti renascendo outra vez”... Fiz da minha vida uma canção. Esqueci, por um precioso tempo, das dores do mundo e me entreguei de corpo e alma àquela criatura, tão sedenta de vida, tão ávida de tornar realidade as suas mais loucas e ensaiadas fantasias. Realizei-as todas, as delas e as minhas. E fui imensamente feliz ao seu lado, mesmo nas horas em que o medo de perdê-la me roubava horas de sono e, nessas horas de vigília, em que eu a tinha em meus braços, a sono solto, me vinha a certeza de que nunca mais seria o que fui, depois dela.
Poderia terminar aqui a minha história e seria um final sublime, porém todas as ilusões, que pena, um dia acabam. Acabou-se a minha primeira quando tive de fazer ver à mulher errada que alguns namoradinhos apaixonados um dia despertam, sufocados e envelhecidos mais do que deveriam e que, nesse dia, é preciso libertar-se para não mais sofrer. (Por onde andará meu primeiro amor? Nem sei se ainda vive...) Acabou-se a segunda quando tive de me fazer ver que garotinhas apaixonadas um dia despertam, sufocadas por insônias alheias e que, nesse dia, é preciso libertar para não mais fazer sofrer. (Por onde andará meu segundo amor? Saberá que ainda vivo?...)
Pensando no mal e no bem que nos fazem ilusões e desilusões, e o que delas em nós permanece, brindo, sereno e só, à minha nova fase, a terceira das idades: aquela, onde se pode ouvir, em silêncio, e entender e absorver cada um dos versos de uma linda canção. 

Autora: Alice Gomes
Porto Velho/RO

Um amor de família

Alice Gomes

O senhor precisa se acalmar, moço.  Há partos que são assim mesmo, mais demorados que outros, mas vai dar tudo certo. Tenha fé.
— Fé eu tenho, dona, mas é que é meu filho, entende? Meu primeiro filho! E é a minha amada quem está lá dentro sofrendo e desta vez não posso fazer nada para ajudá-la. Este sentimento de impotência já o tive e é por demais sofrido uma outra vez.  Se ao menos parasse de chover!
— Sim, esta chuva parece nunca mais terminar, mas nesta época do ano é assim mesmo. Não se preocupe, a casa é resistente e há muitas velas lá dentro. Aí na janela é que não é um lugar seguro, venha sentar-se, vamos conversar um pouco.
— Sabe, esta chuva assim, intensa, sinistra, traz-me de volta um jorro de lembranças terríveis daquele dia em que ela e eu e sentimos todo o peso do céu desabando sobre as nossas cabeças e eu fico me perguntando quais desgraças mandará desta vez para feri-la?
— Então não pense na chuva. Pense em algum momento feliz em que tenham vivido os dois. Eu aposto que nesse dia fazia sol...
— Sim, um lindo dia de sol, aquele em que a vi pela primeira vez e ela estava feliz. A imagem dos seus cabelos dourados e olhos azuis brilhantes me transportam para uma outra realidade. A realidade onde ela não era minha, mas ainda era feliz, e eu era feliz por que nem sabia que a teria, mas, que à distância, inconscientemente, já a amava. Daqueles amores que nada pedem porque nem se sabem ainda amores. Sim, ela era feliz.  E naquele tempo em que ainda não havíamos nós, ela era feliz com ele...
— Sinto que o senhor está precisando pôr para fora toda essa angústia. Que tal me contar a sua história? Assim passamos o tempo, já que teremos mesmo de esperar.
— Para lhe contar a nossa história tenho que começar pela história deles e de como cruzaram o meu caminho, ou eu o deles...
— Bom homem era o Sr. Nicolau. Íntegro, trabalhador, bom esposo e pai amoroso. E jovem. A vida toda pela frente.  E ela, bem, ela tinha nome de flor, o que mais posso dizer? Os dois, jovens, imigraram pela promessa de terras fartas e futuro glorioso, vindos de um país devastado por guerras intermináveis. O trabalho duro, sol a sol, não tirava deles a esperança, em nenhum momento, de viverem o seu sonho de mundo novo. Viviam a tranquilidade dos que têm família e braços fortes e filhos sadios.
Eu, um reles negro, molambo, filho de ex-escravos recém libertados por um pedaço de papel que só lhes permitiu  a liberdade de irem morrer por malária num beco qualquer, sem trabalho, sem casa, sem dignidade. Enfim, eram os novos tempos. Saíram os escravos, entraram os imigrantes, e todos se arranjavam como podiam. Alguns com terras, outros com pés em terras alheias. E foi neste cansaço de pisar tanto chão que eu cheguei até ali. A princípio um banho, um prato de comida, algum serviço que lhes pagasse o favor, um cantinho para passar a noite. - Jamais, em toda a minha vida, provara de comida tão boa! -  “Mãos de fada tem esta mulher”, pensava, enquanto ela se retirava com as suas duas crianças e ele me observava em silêncio. Ao final da farta refeição, levantei-me, preparado para qualquer tipo de pagamento físico. Nada cobrou, ainda que eu insistisse e, para minha surpresa, ofereceu-me trabalho. Seria a primeira colheita e eu fui um enviado de Deus, segundo suas palavras. Palavras que eu nem sei dizer como as entendi, pois a sua língua era muito estranha para mim. Praticamente por gestos e à muito custo, me disse que estava desesperado por não ter sobrado ninguém para lhe ajudar e a proposta que me fez pareceu justa para ambos. Ele teria, enfim, braços tão fortes quanto os seus e eu teria comida e um canto só meu para dormir. Terminando a colheita viria um brinde. Nem lhe perguntei o valor, negócio fechado.  Assim passamos alguns meses, eles na casa e eu na tulha, no primeiro colchão decente da minha vida. Durante os dias, enquanto trabalhávamos, ouvia as histórias de sua terra natal, das quais eu pouco compreendia, mas que ele as contava assim mesmo, quase um monólogo. Canções, muitas, momentos em que soltava a voz afinada a plenos pulmões, quase catarse. E eu gostava tanto de ouvi-las que nem percebia o couro despregando-se dos meus dedos e indo-se grudar nos galhos dos pés de café. Jamais consegui assimilar sua técnica para fazer aquilo sem sangrar. Às noites, ela mergulhava as minhas mãos numa bacia de água escaldante para me aliviar as dores, enquanto preparava os seus pratos impressionantemente bem temperados. Após o jantar eu os via brincando com as crianças no alpendre até que adormecessem. E dormíamos todos em paz. Ao menos eu pensava que sim...
Vez ou outra Nicolau, já meu amigo, ia à cidade e sempre que ia trazia alguns temperos que a deixavam e a mim muito felizes e, por causa deste detalhe, comecei a sentir algo estranho acontecendo, pois suas idas à cidade tornaram-se cada vez mais raras. A comida já não era tão boa, pela falta dos seus temperos preferidos, por mais que ela se esforçasse. Um dia, quando ele teve mesmo que ir, me pediu que cuidasse de tudo enquanto estivesse ausente, olhando na direção dela e dos filhos, me fazendo claramente entender que a sua preocupação era não deixá-los sozinhos. Não os deixaria nem que não pedisse. Era, de certo modo, a minha família também, como um cão que, por instinto, protege, sem que nenhuma ordem precise ser dada. Na volta, a cabeça baixa, semblante carregado, olhar aflito.  Sobre a causa não disse, mas era evidente que alguma coisa não corria bem. A princípio pensei que fosse a gravidez, terceira e num momento inoportuno, mas não era, já que o carinho que um tinha pelo outro parecia inabalável. Passei a perceber as portas e janelas trancadas com ferrolhos, uma estranha faca na cintura, um pedaço de pau sempre por perto, troca de olhares entre eles sempre que saíamos para a lida, as canções rareando, ouvidos sempre alertas. Até que um dia, ao invés de ir à cidade, me pediu que eu fosse em seu lugar. E, nesse dia, no armazém, eu soube das ameaças que um fazendeiro vizinho vinha lhe fazendo, caso Nicolau não lhe vendesse as suas terras para anexá-las às dele. E, nesse dia, eu temi pela vida daquela família. E, nesse dia, chovia.
Estava distante da casa várias léguas e o cavalo não conseguia atravessar, com a velocidade que a urgência requeria, o lamaçal que se formava na estrada de terra batida. A noite caindo e sob um temporal medonho a premonição de uma tragédia. Ainda faltando um bom trecho, já noite fechada, meu cavalo sucumbiu e tive que completar a minha corrida a pé, por entre o cafezal, iluminado apenas pelos relâmpagos.  Estaquei a poucos metros da casa, aterrorizado com a cena que via: meu amigo Nicolau, caído no alpendre, sendo espancado até a morte por cinco jagunços mascarados, armados cada um com grosso pedaço de madeira. Um relâmpago mais forte iluminou, cravando para sempre na minha memória, a imagem de um deles chutando a porta, na intenção de arrombá-la e, lá de dentro, gritos aterrorizantes das duas crianças. Sem pensar na desproporção da força daqueles homens corri para salvá-las e consegui acertar um chute potente nas costas do que estava à porta, que o derrubou, desacordado. Os outros assustaram-se, talvez supondo que houvesse mais gente comigo, e sumiram no cafezal.  E eu fiquei ali, ajoelhado no chão, tentando desesperadamente encontrar um fio de vida nos olhos abertos e estagnados do meu amigo.  Era tarde demais. Com medo de que os jagunços voltassem e com um medo ainda maior que ela e as crianças o vissem daquela maneira, arrastei-o rapidamente para dentro da tulha e o deitei no meu colchão. Atrás de nós um rio de lama e sangue. Quando voltei, o jagunço que eu derrubara também já havia desaparecido.
Bati na porta e gritei seu nome, mas ela não abriu. As crianças, entre choros e gritos, tentavam me dizer alguma coisa que eu não compreendia. Então, sem alternativa, arrombei a porta e entrei.
Outra vez, atônito com o que via, roguei aos céus que não a perdesse também. Ela, caída no chão, se contorcendo, sangrando, em completo estado de histeria, e eu sem saber onde estava ferida, sem saber se a amparava, sem saber o que dizer, o que fazer. Como as crianças não paravam de chorar, abracei-as com força e assim ficamos por uns instantes, todos olhando para ela e foi aí que percebi a causa das contorções e do sangramento. Eram as contrações do parto, que se antecipava, devido às fortes emoções. Eu não tinha ideia do que fazer mas sabia que a primeira providência seria deitá-la numa cama. Coloquei as crianças de volta no chão e quando tentei pegá-la no colo para levá-la ao quarto, na esperança de que ela me instruísse no que fazer, olhou-me com terror, sem ter ainda me reconhecido. Estava a um passo de desfalecer e eu não podia permitir que acontecesse, pois seria o fim. Ela precisaria estar consciente naquele momento, mais do que nunca. Então, com uma das mãos, imobilizei os seus braços e com a outra segurei firmemente o seu rosto assustado e frágil e a obriguei a me olhar nos olhos, gritando-lhe quem eu era e o que estava acontecendo. Finalmente aquietou-se e pudemos nos concentrar no que teríamos de fazer. E foi assim, naquela noite medonha, que parimos a sua terceira filha. Deixei-as se recuperando, trouxe os colchões das crianças para perto da cama e velei os seus sonos até amanhecer.  
Todas as providências para o enterro e os cuidados com ela e o bebê só foram possíveis pelos curiosos que consegui trazer do povoado. Junto com eles vieram o delegado e o vizinho fazendeiro, o primeiro para tomar depoimentos e em seguida a constatação de autoria desconhecida do crime, o segundo para prestar solidariedade. Evidentemente que a solidariedade foi a oferta de compra da sua terra, por quase dez vezes menos do que valia. E junto o conselho para que ela tentasse refazer a sua vida, longe das más lembranças.  Foi o que fizemos. Ela, por absoluta falta de alternativa, eu, pela absoluta convicção de que jamais a abandonaria.
Uma família composta por um negro semianalfabeto em dois idiomas, uma linda e entristecida mulher, e três crianças famintas foi o que restou depois do último tostão. Tentei emprego em todas as fazendas da região, tentei lustrar botas de branco endinheirado, furei poços, limpei privadas, fiz o diabo, mas dinheiro quase nada. E muitas, muitas fuças partidas de quem ousasse tocar num só fio de cabelo daquela mulher. Não que houvesse sentimento de posse, pois nem sequer vivíamos como marido e mulher. Não havia qualquer intimidade física entre nós. O que havia era a fidelidade à memória de um grande amigo, que um dia me igualara a um anjo enviado por Deus, além do amor incondicional e silencioso por ela e por aquelas crianças que passaram a ser também as minhas filhas. Enquanto eu me ardia em busca de trabalho ela arregaçava as mangas, literalmente, oferecendo-se para ajudar na cozinha do albergue que nos acolhera. A sua fama de excelente cozinheira espalhou-se rapidamente e em pouco tempo já preparava marmitas para todos os peões da redondeza. Com muito trabalho e muita economia ela conseguiu alugar um espaço, ao lado de uma venda de beira de estrada e assim pôde trabalhar por conta própria. Em razão da sua dedicação em tempo integral ao pequeno restaurante, achamos por bem que eu me encarregasse de cuidar da casa e das crianças. E, pouco a pouco, ela foi-me ensinando os seus segredos de culinária e eu fui-lhe ensinando os segredos do carinho de mesas postas e banhos preparados.  – Olhe, dona, não vou lhe contar as nossas intimidades, só lhe posso dizer que a noite em que ela me permitiu tocar-lhe cabelos e mãos e braços e boca, foi a noite mais linda da minha vida. A primeira de muitas e que culminou neste serzinho que agora vem ao mundo. Fruto deste amor feito de respeito, de proteção, de doação mútua, de muito sofrimento e muita superação. E sempre juntos, em todos os momentos. É por isso que eu não posso imaginar a minha vida sem ela. É por isso que eu não concebo a ideia de que ela esteja lá dentro, sofrendo, e eu aqui fora, sem poder fazer nada. É por isso que eu não aceito de Deus que Ele mande este maldito temporal justamente hoje, para fazê-la recordar o seu outro parto. Entende agora a minha angústia?
— Sim, eu entendo. O que eu não entendo é como o senhor está falando há horas e ainda não percebeu que a chuva passou faz tempo. Olhe ali pela janela, veja quantas estrelas no céu!
— Puxa! É verdade! Eu não tinha reparado que Ele também me ouvia. E, agora, para a minha completa felicidade sabe o que falta?
— Claro que sei! Não seria esse chorinho de bebê que estamos ouvindo lá de dentro?

Autora: Alice Gomes
Porto Velho/RO