domingo, 25 de setembro de 2016

Lançamento de livro:

Tenho em mãos, o mais recente livro do colaborador e amigo Geraldo Rodrigues da Costa, lá de Bom Despacho, das Minas Gerais.

O talentoso escritor nos brinda, desta vez, com um livro diferente. Em Paisagens e Lendas que Encantam, tal diz no prefácio: ¨... E como o genovês Cristóvão Colombo, salta os mares em sentido inverso, para descobrir a Europa, em especial duas pátrias: Portugal e Espanha. ¨





Geraldinho do Engenho





Esse é o meu amigo Geraldinho do Engenho!
Um abraço!


domingo, 11 de setembro de 2016

A botija de ouro

João Batista Stabile

Nos bons tempos do café quando a cultura estava no seu auge, existiu um grande fazendeiro que começou sua vida como tropeiro transportando café para o porto de Santos. Homem trabalhador logo conquistou a confiança dos fazendeiros da região e com isso ganhou muito dinheiro, esperto nos negócios começou a comprar terras e depois casou-se com a filha de um fazendeiro tornando-se em um curto espaço de tempo um grande produtor de café.
Desse casamento ele só teve um filho, o menino apesar de inteligente e educado não demonstrava ter o tino do pai para negócios, foi crescendo mimado pela família mais pela mãe, tias e avó que pelo pai que tentava por todos os meios torná-lo um fazendeiro como ele e talvez o chefe político da cidade, mas logo percebeu que sua tarefa não seria fácil, o menino agora já rapazinho gostava mais da vida boa e dos privilégios que a posição do seu pai proporcionava-o.
E como não adianta dar conselho falar que o jovem está agindo errado, ele só vai aprender quebrando a cara, mas quando isso acontece geralmente é tarde para recuperar o que perdeu.  Um dia o pai já convencido que o filho não daria conta de administrar os negócios quando ele morresse chamou-o para conversar, levando-o para um quarto do casarão, abriu a porta à chave e entraram, era um quarto espaçoso com pouca mobília, num canto um armário que estava vazio, duas poltronas velhas   e mais alguns trastes noutro canto.
Esta casa antiga tinha o forro de madeira e no centro do quarto havia uma corda que pendia do forro com um laço na ponta e um banquinho na altura certa para um homem enforcar-se. Mostrando isso o velho disse ao filho, está vendo isso, quando eu morrer e você dissipar nossa fortuna com essa vida de boêmio que você leva, quando tiver sem dinheiro e sem amigos, não desonre meu nome vivendo na miséria venha aqui e enforque-se.
Feito isso o pai chamou o rapaz para sair do quarto e disse que não voltasse ali até que chegasse a hora de acabar com tudo, saíram do quarto e o pai o trancou à chave e a guardou no cofre junto com os documentos mostrando para o filho, o rapaz não levou muito a sério aquela conversa mas não querendo chatear o pai prometeu que faria o que ele pediu, achou esquisito aquele pedido mas esqueceu e foi curtir sua vida.
Depois de alguns anos daquela conversa seu pai morreu, ficando para ele a responsabilidade pelos negócios da família. O rapaz acostumado na boa vida não quis pegar no batente, levantar cedinho como o pai fazia para organizar e acompanhar os trabalhos da fazenda e fazer as compras e vendas, foi deixando na mão de empregados.
Como diz o ditado o olho do dono que engorda o boi, nesse caso não tinha o olho do dono e os negócios já não rendiam como no tempo do velho, o rapaz sem experiência e sem muita vontade de trabalhar, gastando mais do devia e alguns negócios mal sucedidos em poucos anos estava afundando em dividas.
Para piorar a situação no último ano deu uma geada forte na região que queimou grande parte de sua lavoura ele sem saber o que fazer foi abandonando a lavoura, os empregados antigos de confiança foram embora. A situação chegou ao ponto de perder a fazenda só havia uma saída entregá-la ao banco para pagar as dívidas.
Um dia o rapaz desesperado com a situação, sem amigos porque acabando o dinheiro os companheiros de festas o abandonaram, sem ter a quem recorrer foi ao cofre pegar dos documentos da fazenda para negociar com o banco, viu a chave e lembrou-se da conversa com o pai.
Pegou a chave abriu o quarto olhou a corda pendurada pensou não posso dar este desconto à memória do meu pai entregando a fazenda, vou cumprir o que prometi subiu no banquinho pôs a corda no pescoço e pulou, o forro quebrou ele caiu e do seu lado caiu uma botija que se quebrou esparramando pelo chão uma fortuna em moedas de ouro.
Agora já experiente depois de tudo que aconteceu pegou o dinheiro pagou todas as dívidas salvando a fazenda. Daí por diante mudou completamente seu modo de viver, passou ele próprio administrar a fazenda fazendo-a produzir não mais esbanjou dinheiro, tornando-se assim o fazendeiro que seu pai sonhava que fosse.
João Batista Stabile - Marília/SP, 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Amor imortal

Autor: Alberto Vasconcelos

I
Cinquenta anos. Passaram-se cinquenta anos desde que nos vimos pela ultima vez. Era um dia qualquer da semana. Estávamos saindo do cemitério, onde havíamos assistido ao funeral de militar de alta patente com toda aquela pantomima insossa. Salva de vinte e um tiros em funeral... Recolhimento da bandeira que cobrira o ataúde...
Mesclado com o crepúsculo, o toque de silêncio executado pelo jovem corneteiro com o rosto banhado em lágrimas. Era o som da alma do afilhado a se despedir, para sempre, do padrinho e protetor...
Depois disso, apenas o som monótono do pedreiro ajustando a tampa da sepultura.
Abraçados, viemos lentamente até ao portão de entrada. Um beijo rápido no rosto, como despedida, e ela entrou no carro do pai que, impaciente, gesticulava e dizia algo ininteligível.
O peso da emoção proporcionada pela cerimônia nos guiou para casa. Nada a fazer...
II
Dentro do envelope de papel linho, o convite dourado para a cerimônia de premiação dos melhores da propaganda e do jornalismo me foi entregue pelo porteiro do prédio. O velho Anselmo, porteiro desde sempre, conhecia a todos moradores. Sabia da vida de cada um, com os mínimos detalhes.
—Nesse ano eles capricharam no convite, doutor. Nos anos anteriores não havia tanto luxo assim...
—Acho que vou mandar você me representar...
—Quem sou eu doutor? Quem sou eu para participar de evento como esse? E mesmo que pudesse ir, quem é que vai tomar conta de tudo isso aqui?
—Eu lhe empresto meu smoking e fico no seu lugar... (risos)
—Eu magro do jeito que sou doutor, dentro da sua roupa iam perguntar se o defunto era maior. (risos) E tem mais, se o senhor ficar sozinho no meu lugar, dona Genoveva vai trancar a portaria e lhe dar um amasso que só vai restar o bagaço...
—Rapaz acabe com isso. Dona Genoveva é uma mulher séria.
—E o senhor quer seriedade maior do que um amor velho e recolhido sem coragem para se mostrar?
Abriu-se a porta do elevador e quatro garotos saíram de dentro como que catapultados.
—Esses meninos não têm jeito. (comentou o porteiro entre dentes)
—Quem não tem jeito são os pais deles.
A fechadura meio que emperrou outra vez. Amaldiçoei o esquecimento, pela enésima vez, de pedir ao síndico que mandasse um chaveiro decente e de confiança arrumar aquela merda velha. Não era de se estranhar que uma fechadura com mais de trinta anos de uso desse algum problema. Na cozinha, tirei uma lasanha do freezer e coloquei no micro ondas para descongelar. Abri um Chiante Rufino e enchi a última taça de cristal que restava.
As outras, irmãzinhas dela, haviam suicidado, pulando da mesa depois de terem enchido a cara de vinho sujando o tapete e espalhando os cacos de cristal para todo lado.
Bebi um gole generoso e fui tomar banho largando a roupa pelo chão da cozinha, corredor, quarto e banheiro. A água estava gelada.
Eu havia esquecido, outra vez, de mandar arrumar o chuveiro elétrico, comparsa da fechadura na arte de me aborrecer... Mas um banho frio até que é revigorante, depois de passar o dia todo às voltas com montanhas de papel empoeirado. (pensei assim como forma de consolo)
Voltei para a cozinha enrolado na toalha. Para que vestir roupa se daqui a pouco iria tirá-la para dormir? Comi a lasanha com o vinho e fui para o sofá examinar dois processos que trouxera para dar a sentença.
No inicio do ano passado, quando assumi a quarta vara da capital, havia um acúmulo de processos que nenhum juiz do mundo seria capaz de vencer sozinho. Depois de me inteirar do absurdo que me aguardava, fui à Universidade Federal falar com o diretor do curso de Ciências Jurídicas. Eu estava precisando formar uma equipe com dez estagiários. Deveriam ser quintanistas e teriam bolsa de meio salário mínimo. (foi só o que consegui com o miserável presidente do tribunal). Inscreveram-se trinta candidatos. A prova que elaborei, eliminou mais da metade. Inaptos. Pensar que no final do ano essas bestas vão entrar no mercado de trabalho. E o pior, serão meus colegas de profissão...
Ainda bem que existe a prova da OAB.
A segunda prova foi a analise de um processo. Dei uma cópia do mesmo processo a todos. Teriam quatro horas para analisar e dar seu voto. Escolhi os dez melhores, dos quais, seis foram brilhantes. Concisos. Incisivos. Irrefutáveis.
Na primeira semana, analisamos em grupo as peças dos processos. Depois isoladamente e hoje tenho uma boa equipe. Nosso recorde foi prolatar a sentença em duzentos processos numa semana.
Os dois que eu trouxe para casa, me foram entregues por uma estagiária que fatalmente chegará à ministra num tribunal superior, tal a retidão e o embasamento jurídico de seus pareceres. Nesses dois casos, faremos uma representação junto à OAB contra os advogados, por ocupar a justiça com causas banais, que qualquer conciliador de quinta categoria daria um bom final e por acumular erros crassos de ortografia e gramática num linguajar chulo e repleto de vícios.
III
Chegado o dia da festa, voltei cedo para casa. Tinha que me preparar como um príncipe. O interfone tocou. Era Anselmo para avisar que o taxi chegara. Eu não poderia dirigir naquela noite. Geralmente volto embriagado desses encontros. Depois da premiação tem o coquetel, o jantar, a boate... o motel. Não. Definitivamente dirigir estava fora de cogitação. Fui recebido pelo mestre de cerimônia que anunciou a todos, pelo microfone de lapela, que o meritíssimo senhor doutor juiz de direito da comarca da capital estava prestigiando o evento. Entrei sob aplausos e apertos de mãos e tapinhas nas costas dos muitos amigos que tenho na mídia.
Ser amigo de jornalista é uma boa estratégia para se viver bem em sociedade. Ai de quem eles não gostam.
Propagandistas e jornalistas que ao longo dos anos, pelo exercício da profissão, haviam se metido em enrascadas e eu, de certa forma, havia ajudado nos confrontos com a lei.
Envelopes abertos e os vencedores de cada modalidade sendo apresentados aos presentes, sob intensa salva de palmas. O destaque da noite foi um jovem rapaz que conseguiu o primeiro lugar com duas reportagens sobre drogas entre adolescentes masculinos e prostituição como meio de vida entre adolescentes femininas. Alto, louro, vestido com o rigor que a ocasião exigia, chorou ao dedicar os prêmios à sua mãe, aquela senhora vestida de negro, cabelo cinza azulado, ostentando um colar de pérolas, sentada numa mesa de pista.
Inicialmente pensei conhecê-la de algum lugar. Talvez numa audiência. Talvez num júri. Não. Devia ser uma dessas mulheres que aparecem, vez em quando, nas colunas sociais desses jornalecos com os comentários imbecis de colunistas, geralmente, pederastas no fim da carreira homossexual.
Mas não. Esse rosto, essa lembrança, é algo mais marcante. Tem sabor de algo duradouro. Cheira à antiguidade. Remete a algum lugar ou momento muito intenso num passado distante.
Aquele rosto tirou minha atenção do resto da cerimônia. O pensamento dando voltas, revirando os arquivos adormecidos por longos anos.
Olavo Brás, decano dos jornalistas e presidente da associação da mídia estadual, estava em minha frente com o rapaz laureado naquela noite.
—Doutor, quero lhe apresentar nosso mais novo sócio. Com pouquíssimo tempo na profissão, revelou enorme talento e preparo para o sucesso.
—É um enorme prazer conhecer o senhor, doutor. O senhor é muito bem quisto em nosso meio. Tem ajudado aos colegas...
—Não se iluda meu jovem, nem leve em conta o que lhe dizem. Eu apenas aplico a lei. A vantagem fica sempre com a razão mais forte, que por pura coincidência, está com quem eu gostaria que ficasse... (risos)
—Se o senhor permitir, eu gostaria de apresenta-lo à minha mãe...
—Com o máximo prazer, vamos até ela.
Chegados à mesa, enquanto o rapaz esperava que uma jornalista acabasse de entrevistar a elegante senhora, pude observa-la melhor. Sim. Agora eu tinha certeza. Conhecia e muito bem aquela mulher. Ninguém no mundo tinha os olhos daquela cor. Num ímpeto, segurei-a pelos ombros colocando-a de frente para mim e chamei-a pelo nome, Helena de Arrabal...
Surpresa com meu gesto, Helena me encarou e eu vi em seu rosto aflorarem todos os momentos maravilhosos que vivemos na infância e adolescência.
O primeiro beijo... Os dois cachinhos de pelos pubianos amarrados com linha vermelha e azul colocados numa caixa de brincos... O primeiro saco de pipoca manchado de manteiga derretida que comemos juntos, e que ficara guardado com o canudo de papel do caldo de cana tomado no mesmo copo... O comprovante da passagem do ônibus elétrico que nos trouxe para o centro da cidade, quando nossos pais nos deixaram vir sós ao cinema para assistirmos ao filme “Suplício de Uma Saudade”, impresso em papel verde, cuja cor esmaeceu com o tempo, mas que não foi jogado fora. O botão de rosa, roubado do jardim do colégio das freiras, no dia dos namorados, seco e sem cor, guardado no missal...
Não sei quanto tempo permanecemos assim, parados, embevecidos na contemplação mútua. O amor nascido na infância compartilhada, despertado quando os hormônios nos levaram à adolescência pontilhada de carícias proibidas e de beijos ardentes, que fora embotado pela separação e pela obediência cega aos cânones sociais de uma época, diametralmente, oposto aos atuais, ressurgiu vigoroso deixando-nos estáticos pela descarga de adrenalina.
Com os corações batendo acelerados, sentamos.
Toquei levemente seu cabelo, sua orelha, seu rosto. Com a mão trêmula, ela ajeitou um cabelo em minha sobrancelha e correu o indicador pelo contorno do meu lábio superior, como sempre fizera. Por um momento, fomos sugados de volta aos anos 50... e quando conseguimos falar, nossas vozes embargadas pela emoção, foi para dizer em uníssono...
—Meu amor, por que nos separamos?

Autor: Alberto Vasconcelos - Santo André/SP

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Carta para Rosinha

Autor: Dermeval Franco Frossard

Rosinha,
Saudades docê!
Estes dias estava vagando sem o que fazê e me ajuntei  com uns parvos aqui, que queriam ir para  Aparecida do Norte, pagar ou fazer promessa, num sei bem o quê,  o cê sabe que nun interesso por estas coisas, num é?
Poisentão, num tinha o que fazê, fiz companhia. Meia caminhada andada quando me deparei cum esta casinha pintada de verde e barrada de azul, já que tava indo pra Parecida, resolvi fazê um pedido pra ela, depois pago a promessa, agora já conheço o caminho, num custa tentá, não é?
 Pedi para Nossa  Senhora, que aprovidencie um modo deu  compra estas terrinhas com esta belezoca em riba. Já vejo ocê lá, cozinhando o feijão e, em riba do fogão peças de porco dependuradas para defumá.
 O dinheiro que tenho da empreita de meeiro não é muito, Rosinha, mas dá pra fazê uma proposta e virar a cara pro outro lado, se de repente sua madrinha (Aparecida) nos ajudá, vai dá.
Eu vi lá, pouca coisa para mexê prá nos acomodá, luz num tem, também não precisa, né? lamparina arresorve! Não!? Tá bem, eu compro um lampião pra cozinha, mas de querosene, o a gás tá mui caro. Geladeira não carece, pois nos fundos da casa desce um ribeirão da serra com as águas geladinhas, onde a gente pode por as garrafas para gelar num instantinho. Vi também que podemos ajeitá nossa cama com as madeiras que a gente tirá lá do matinho e o colchão fazemos de paia de milho desfiada, tirando os umbigo das espigas para não cutuca a genti  de noite. Vamos fazê muito rebuliço lá.
Vou vê se compro as galinhas tamém, a gente põe uma pra chocá todo mês, pra nunca farta o franguinho do fim de semana. Aqui num vai ter televisão e nem computadô, ouviu? O cê pos reparo como as famías diminuíram depois desta tar da televisão? A famia do meu pai era doze irmão e da minha mãe tamém, hoje onde que o cê vê uma famia deste tamanho? Falta tempo pra furunfá? Aqui não! Agora qui tem estas tar de bolsa famia, bolsa escola...vamo pô menino no mundo, so! Outra diversão vai ser pescá lambari, traíra e bagre nos açude dos vizinhos. Vai ser bão, num é?
Rosinha, ocê sempre pede pra fala que ti amo num é? Poisentão, está espaiado por toda esta carta isto aí, é só enxergar de maneira diferente.
Rosinha,
Um beijo debaixo do seu nariz, tá!
Do seu José Raimundo Silva
Eu, mesmo, o Zé Pequeno do Arraiá de Pedra Bela.

Autor: Dermeval Franco Frossard
Bragança Paulista/SP

Amor de Estudantes

 Autor: João Batista Silva                                                                                                
“Voltando o olhar ao passado”, nas proximidades de 1970 a 1980, ocasião em que se deram grandes aventuras nas vidas dos estudantes, “Joasmyro e Jasmyne”; podem-se recordar juntamente com eles muitas passagens, que ficaram e ficarão na memória de tantos amigos.
Jasmyne muito entusiasmada, estudante do Curso Técnico em Contabilidade. Possuidora de um perfil extremamente encantador, dirige-se ao colega e deixa escapar as sinceras e dóceis palavras, que vão caindo uma após a outra, na mente oscilante e envaidecida do pobre moço. Antes porém, Jasmyne retorce os ombros, muda a fisionomia do maravilhoso rostinho de princesa, fixa bem os olhos do amigo, e na mais sutil delicadeza, pergunta:
— Do que falaremos agora?
Joasmyro, um pouco acanhado e surpreso, tenta despistar do susto que levou e ser firme na qualidade de bom cavalheiro que sempre foi e...
— Agora falaremos de tudo um pouco, inclusive...
Jasmyne, sorrateiramente complementa:
— Então falaremos de nós...
As idéias se complementam com otimismo na alma dos jovens, que sentiam a liberdade do amor falar mais alto.
Joasmyro pensa um pouco. Verifica os olhos brilhantes de sua linda, muda o tom de voz ainda mais, e responde:
— Ótimo, falar a só é o que mais quero.
O silêncio cai sobre eles. A proposta de falar emudeceu. Um olhando para o outro, trêmulos, a suspirar de satisfação, ali mesmo defronte ao jardim da residência dos pais de Jasmyne, naquela praça dos inconfidentes.
Um despistou daqui, o outro despistou dali, até que ouviram alguns chamados de sua mãe. Uma senhora que transmitia os mais exemplares comportamentos de uma família preservadora dos princípios e deveres.
Jasmyne volta-se para o apaixonado e interroga:
— Quando nos veremos novamente?
— Amanhã à tarde, disse lhe o afetuoso namorado, suando e vermelho como um atleta em suas funções. Tremia, ali parado, meio pasmado diante da bela adolescente, que lhe causava as melhores sensações de felicidades na vida.
Jasmyne, muito emotiva, apaixonadinha também, sensual e inconformada com a rigidez dos pais para com os sentimentos do amor, e com a falta de criatividade do namorado, decide por si e pronto:
— Veremo-nos hoje à tarde.
As obrigações do colégio serão feitas com rapidez e depois...
À tarde, à noite...
Combinado. Concordam os dois. E assim a convivência dos apaixonados foi se fortalecendo, se comprovando, se alimentando de esperanças.
No cair da tarde, lá se vai... e se prontifica o herói, defensor das causas justas de seus interesses, defronte ao palácio de sua encantada e brilhante Jasmyne.
Em poucos instantes Jasmyne vai à janela que dava frente para o jardim e fita os olhos no amigo Joasmyro, despertando, em seus pais, algo estranho que foram conferir.
— Olá filha, o que está lhe deixando a tremer assim?
— Nada de importante, meu querido pai, é só uma curiosidade de menina, e nada mais!
— É mesmo, filha! Então chame seu amigo para dentro de casa e não precisa ficar preocupada. Eu e sua mãe queremos sua felicidade. Ela é também nossa.
Jasmyne recebe uma dose de estímulo, que contagiou seu maravilhoso corpinho embonecado das mais belas características encantadoras de uma mulher. Vai até o alpendre e através de sinais convida o ousado jovem, para compor a mesa interna, ao lado dos pais.
Joasmyro, mesmo sem entender o que estava acontecendo, não resistiu ao convite e lá se foi!
— Boa tarde a todos!
Uns responderam, outros ficaram despercebidos diante da televisão.
A namoradinha, como sempre, foi a primeira a responder o boa tarde, cheia de emoções. Os sorrisos tomavam conta de sua alma naquele momento.
Inicia-se um longo período emocionante, que encantou por muito tempo um casal de jovens, que não teve a oportunidade de se realizar, ou de se encontrar no paraíso do grande amor que existiu e ainda existe.
Cada um seguiu seu caminho, mas o verdadeiro amor continua mais forte que nunca.
Felicidades aos dois...!
Joasmyro e Jasmyne, vocês se merecem: o que for da vontade de Deus será feito!

Autor: João Batista Silva
Bom Despacho/MG

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A sereia e o navegante

Autora: Rosana de Pádua

Vivia a Sereia na imensidão do mar. Passava seus dias pensando ser feliz, ora em águas calmas, ora em águas turbulentas.  Distraia-se nadando delicadamente, entre o colorido e a beleza dos corais infinitos, que contrastavam com as milhares de espécies ali existentes. 
Um dia, enquanto ela descansava sobre o mar, aproveitando os raios de sol que aqueciam seu corpo metade peixe, metade mulher, deparou-se com um Navegante que por ali passava. Ele acenou para ela, que fugiu assustada num ímpeto, mas, tomada de um sentimento estranho voltou desconfiada, e ficou ao longe tentando decifrar aquele misterioso ser.
Aos poucos foi se aproximando, e quando seus olhares se encontraram a Sereia ficou totalmente encantada, pois, ele tinha os olhos mais azuis que o mar, e seu sorriso brilhava mais que sol, que ela via nascer todas as manhãs.
Nesse instante o Navegante falou com ela, de um jeito hipnotizador, que de tão irresistível a levou a se aproximar ainda mais, correspondendo ao aceno. Houve um longo silêncio entre eles, enquanto deixaram que só os olhos falassem, depois foram surgindo palavras, e na troca de diálogos perceberam que muito tinham em comum. 
Daquele dia em diante, o Navegante voltava sempre para encontrá-la, e a serena Sereia o esperava ansiosa, contando os minutos para de novo vê-lo. Falavam de tudo, de suas vidas, de seus sonhos... Um dia, ele disse olhando dentro de seus olhos, que a amava, e a Sereia de tão feliz pensou que ia explodir, pois, sentia pelo Navegante algo jamais experimentado, que ela ainda não sabia decifrar, mas, a partir daquele momento soube, que era um sentimento nobre e imensurável, chamado Amor.
Passaram então, a estarem sempre juntos, ele fazia planos para o futuro e dizia que ela faria parte deles, trocavam juras, dividiam sonhos, passaram assim, a fazer parte um da vida do outro, inebriados em momentos de amor e caricias. Eram mais que dois, eram apenas um. Quando o Navegante partia, a Sereia quase morria de saudades, quando ele voltava, a saudade ia-se embora, dando lugar para o amor, que era responsável pela felicidade que contagiava a ambos.

Foi num dia nublado, que o Navegante fez a Sereia despertar de tantos sonhos, dizendo que ia partir para nunca mais voltar. Ele falava de uma tal de “segurança” que precisa ter, e que com ela não teria, e que seria impossível compartilharem o mesmo mundo, eram coisas que ela não entendia.  A Sereia ficou apavorada e confusa, tentando entender essa decisão repentina do ser amado. Ela implorou, insistiu e chorou, numa tentativa inútil de convencê-lo a não deixa-la. Mas o insensível Navegante partiu sem maiores explicações.
Durante vários dias a solitária Sereia esperava em vão pelo Navegante, depois daquela despedida, ela começou a achar que o mar era cinza, e que não havia mais belezas para serem admiradas, resultado de algo que ela jamais conseguiria entender: “Porque quem ama, fere?"   
Conta-se, que a partir daquele desencontro, é possível em noites de lua cheia, ouvir ao longe, o triste canto de uma sereia, enquanto nota-se, que as marés se tornaram muito mais intensas, devido às muitas lágrimas que caem dos olhos, da desencantada Sereia.

Autora: Rosana de Pádua